AO MESTRE COM AMOR















As tardes do Auditório Araújo Vianna, no coração verde de Porto Alegre,  eram repletas de dança. Lá a partir de 1966 e por um período de aproximadamente 20 anos funcionou a Escola de Ballet João Luiz Rolla.

João Luiz Rolla havia vindo do atletismo, praticava corrida na modalidade 110 metros com barreira no Sport Clube Internacional.  Em 1939, acostumado a saltar obstáculos por esporte, venceu os preconceitos de sua época e iniciou sua trajetória no mundo da dança. "A dança estava no meu sangue" se justificava e mesmo iniciando tardiamente seus estudos, com a professora Tony Seitz Petzhold, e sendo um dos poucos homens a praticar dança na cidade, formou-se bailarino.

Ainda na Escola de Tony, totalmente aplicado aos estudos e freqüentando todas as classes possíveis, depois de algum tempo passou a ministrar aulas para turmas iniciantes. Delineava-se aí o futuro de um dos precursores do ballet no Rio Grande do Sul.

Ele não quis seguir carreira profissional no Rio de Janeiro, São Paulo ou mesmo na Europa, decidiu se dedicar à arte em nossa cidade. Em 1951 fundou sua própria escola e resumia: "O bailado tem sentido altamente formativo. Desenvolve o sentido estético, atinge o espírito, forma o caráter, tem, portanto, influência na formação da personalidade".

Sendo um apreciador do movimento expressionista e da dança moderna, via no ballet a base técnica de todas as danças, de onde buscar elegância, postura, equilíbrio. Sua Escola era dedicada ao estudo do ballet, mas nós alunas, além de aprendermos passos de dança e coreografias, tínhamos a oportunidade de compartilhar de uma aura de disciplina, dedicação e amor à dança que emanava do mestre Rolla.

Somente as alunas adiantadas tinham o privilégio de receber os ensinamentos do próprio Rolla. Lembro que eu criança, tendo chegado à escola em 1975 por sugestão de um ortopedista, em pouco tempo já me esforçava ao máximo para atrair o olhar do mestre. Um misto de respeito e admiração me levava a não faltar nunca às classes e a estar sempre atenta as palavras dele.

Os espetáculos de final de ano da Escola eram os momentos mais esperados por todos. Seu Rolla além de fazer coreografias, imaginava cenários, desenhava figurinos, inventava a iluminação e muitas vezes contava com parcerias de outros criadores portoalegrenses nestas áreas. Era um artista e cuidava de todos os detalhes de sua criação.

Era também um inovador e ele mesmo contava orgulhoso para nós que não tínhamos idade suficiente para ter acompanhado o fato marcante no cenário da dança portoalegrense, que "2001 - Uma Experiência pelas Fronteiras sem Fim da Dança" criação dele de 1969, teve um público de 14 mil pessoas contando duas apresentações no Auditório Araújo Vianna e seis no Teatro São Pedro.

Foram muitos anos de convivência enquanto aluna e depois muitas  amigáveis conversas no bairro Bom Fim sobre dança, artes e a história de Porto Alegre que ele adorava contar. Como boa discípula, estava sempre por perto buscando orientação e inspiração e Seu Rolla sempre tinha palavras afetuosas de incentivo e aquela generosidade característica dos grandes mestres.

E claro, como todo verdadeiro mestre, Rolla iniciou uma linhagem que ainda hoje tem seguidores espalhados pelo mundo, atuando em dança: Sayonara Pereira, Rubem Barbot, Carlota Albuquerque, Sheila Silva, Lenita Ruschel Pereira, Isabel Beltrão, Maria Cristina Futuro, Manon Freire Giorgio, Elizabeth, Beatriz e Ligia Gutierres, para citar alguns.

O professor, coreógrafo e criador, influenciou gerações de crianças, jovens e adultos e deixou sua herança no percurso da dança no Rio Grande do Sul. Seu Rolla semeou o amor pela dança no coração das pessoas e abriu caminhos para tornar  Porto Alegre, a Cidade da Dança.
Tânia Baumann

*junho de 2012 comemoramos 100 anos de nascimento do mestre Rolla.

Um comentário:

  1. Que lindo! Rolla foi um precursor mesmo, em um tempo difícil, de preconceitos e outras limitações sociais. Parabéns pelo belo texto! Anaí Zubik

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